domingo, 6 de fevereiro de 2022

Só-brio.

É domingo, está nublado. É um ótimo dia para experimentar estar sóbrio, ainda mais depois de entupir meu organismo de coisas que meu própio organismo já possui. 

É...mas hoje não é esse dia. Eu não acordei com a sensação de querer estar morto, e eu não pretendo abusar do meu corpo mais do que a minha própria mente já "abusa". 

É angustiante saber que posso despejar minhas frustrações e minhas enfermidades em um dia onde eu vou me auto destruir. 

É angustiante saber que posso aproveitar as simples coisas da vida me envenenando. É muito triste saber que eu começo um dia de trabalho já pensando como vou me enganar daqui uns dias. Ok, eu sei que talvez eu não tenha um trabalho. Mas eu já tive. Imagina a nós passarmos mais da metade da vida nos entupindo de merda para encarar a existência. Alguns vão usar a desculpa que o mundo é um lixo, que decisões de outras pessoas vão afetar sua vida. Mas sendo pragmático: são só nossas escolhas. 

É muito absurdo eu precisar usar algo para simplesmente abaixar meus olhos por algumas horas. 

Um dia eu me senti como uma criança vazia de pesadelos, eu apenas ingeri algo. Foi uma sensação de cinco minutos, mas foi uma enternidade se comparado ao peso da minha mente nos dias atuais.

Infelizmente nós precisamos sofrer. E nós também temos que aprender a dançar e flertar com a morte. E qual o modo mais burro e honesto? Estando sóbrio. 

Eu posso tentar me auto refutar e dizer que de alguma forma, seja qual for, precisamos dos "escapismos". Que a realidade é dura demais. Ou que as vezes precisamos nos recorrer a drogas para "regular" o que está de errado em nós. Mas meu intuito não é esse. No fundo eu só quero dizer que o diabo não vai embora quando nós estamos dançando com a ilusão. E nós repetimos isso dia após dia. 

Eu conheço o demônio desde cedo. E por mais burro que seja, eu o respeito. Eu não faço a menor idéia de como as pessoas devem lidar com a sobriedade. Mas a sobriedade é o fim que eu preciso. 

Eu queria sentir a chuva sem precisar estar com a pele sensível. Eu queria tocar meus sonhos sem precisar me destruir fisicamente e mentalmente para isso. Eu queria ouvir minha música preferida sem estar retardado demais para isso. 

Eu lembro do meu primeiro beijo. Parecia uma cena de filme pastelão. E foi totalmente uma merda do ponto de vista do ato. Mas eu realmente estava ali. Era o meu espirito, era minha sinceridade, era apenas eu. 

E eu lembro da primeira que fiquei embriagado e beijei alguém. Meu corpo não estava ali. Minha mente era surrada. Deixei-me ficar burro por alguns momentos. Eu não senti os lábios. Eu apenas tentava controlar minhas pernas.

Isso é apenas um exemplo tosco e pouco profundo de como minha mente se comporta. Eu sei que a existência é sufocante. Ninguém a vence. Mas não se trata de vencer, se trata de lutar de cara limpa. O diabo sempre vai ficar mais forte. Quando mais piulas eu tomar, quanto mais eu acreditar que a saída é me entregar ao abismo de quimicas, mais eu vou dar poder para aquela voz de merda me dominar. 

É um pouco ingenuo, eu sei. Mas do outro lado tem uma ponte que só fica maior quando eu tento substuituir minhas fraquezas por ilusões. No fim do dia é só mais um risco, é só mais uma escolha que vai gerar sofrimento. 

Quando eu era mais jovem, eu não fazia idéia de como era pisar em nuvens de algodão. Então...por um tempo eu experimentei isso. Mas, meu amigo, não há nuvem. Há apenas um corpo desesperado por prazer e mais prazer. Há apenas um copo para ser preenchido por veneno. 

Eu sinto muito em desapontar você, demômio. Eu sei que você precisa ser alimentado. Mas chegou o dia em que eu preciso você longe de mim. Eu preciso apenas que você fique quieto. E eu sou o único responsável por te mover. Procure por outras almas sedentas por vicio em prazer constante, eu não quero deixar a porta aberta. 

E eu vou culpar a existência. E eu vou dizer que "faço o que faço apenas para estar vivo?" Até quando? Até eu me sentir velho o bastante para não conseguir mover minha coluna?

Eu não quero pensar que a morte é um alivio. Eu não quero pensar que apenas por eu existir, é que as coisas são assim. A paz meio que não se trata disso. A paz é sorrir de verdade enquanto minha mente está quieta o suficiente para não querer que eu me envenene. 

Eu quero me sentir vivo sem vender minha alma. Eu quero me sentir vivo sem precisar contar moedas para sustentar meu vicio.